Thursday, March 19, 2009

Metodologia, Método, Modelo: definições

Por: Maria Odete Madeira

Metodologia – termo formado, a partir do grego methodos + logos

Metodologia significa, etimologicamente, o estudo dos métodos [processos (caminhos) e instrumentos] usados para se fazer pesquisa científica.

A metodologia é uma disciplina normativa que tem por objecto o estudo sistemático e lógico dos princípios que dirigem qualquer pesquisa científica, desde os pressupostos básicos, até às técnicas de investigação.

Não deve ser confundida com teoria, uma metodologia não é uma teoria. A metodologia, enquanto critério de pesquisa científica, interessa-se, apenas, pela validade formal, ou condições de validade formais, e não (nunca) pelo conteúdo dos critérios científicos, relacionados com os métodos e técnicas os quais estão mais centrados na capacidade de fornecer conhecimentos específicos/determinados.

Assim, a metodologia, mais do que uma descrição formal de técnicas e métodos a serem utilizados na pesquisa científica, indica a opção que o pesquisador fez para resolver determinada situação, ou problema (que pode(m) ser teórico(s) ou prático(s)) relacionado(s) com o seu objecto de investigação o qual tem de ser, obrigatoriamente, desenvolvido dentro de um quadro científico, enquadrado/enquadrável no paradigma(s) ou teoria(s) vigentes.

O método (methodos) é um procedimento científico, reflexivamente ordenado, constituído por instrumentos básicos, aos quais se aplica, de forma adequada, a reflexão/conjectura e a experimentação. O método tem por objectivo orientar todo o percurso da pesquisa, de modo a alcançar os objectivos preestabelecidos no projecto de pesquisa.

Modelo é uma representação conceptual, ou física, de um processo, ou de um sistema, ou, ainda, de um fenómeno ou de um objecto.


O domínio de aplicação de um modelo científico é definido por aquilo, ou aquela estrutura, que é representado/a no modelo, seja essa estrutura conceptual/abstracta ou física/material.

O comportamento daquilo que é representado por um modelo científico é definido em termos das interacções e/ou relações/relacionamentos entre os seus elementos/componentes, e não (nunca) pelos seus elementos/componentes, considerados individualmente, enquanto singularidades tautológicas referentes.

Wednesday, March 18, 2009

Procedimentos metodológicos de investigação

Por: Maria Odete Madeira

Procedimentos metodológicos de investigação:

identificação, sinalização ou localização de um padrão // observação desse padrão // abstracção/conjectura // procedimentos reflexivos // conclusão ou prova final


1º- identificação, sinalização ou localização de um padrão que figurará como proposta de tese e que pode ser concreto ou abstracto, devendo entender-se por padrão uma proporção que possa ser exemplificada ou expressa por uma estrutura ou configuração, tal como, por exemplo, um objecto, um problema, um enunciado, um facto, um acontecimento, etc… .

2º- observação desse padrão utilizando a formação do próprio observador/investigador, bem como toda a informação/conhecimento, previamente aprovada e disponibilizada pela comunidade científica que seja adequada e, assim, aplicável como critério metodológico àquilo que está a ser alvo de investigação.


3º - abstracção/conjectura feita a partir da observação/experiência.


4º - procedimentos reflexivos que visam a percepção, compreensão, interpretação e explicação do objecto que está a ser trabalhado e que podem ser auxiliados ou apoiados, separadamente ou conjuntamente, por procedimentos lógicos, matemáticos, hermenêuticos, etc…, aqueles que forem cientificamente adequados ao objecto e respectivo contexto/situação/processo.


5º - conclusão ou prova final que deverá exibir de forma desambiguada argumentos conclusivos, suportados por teoria(s) científica(as) que estabeleça(am) critérios de legitimidade/validade científica acerca do objecto constituído como tese e que, enquanto tal, foi observado/investigado.

Sunday, March 8, 2009

Digitizing the Continuum

by Carlos Pedro Gonçalves

The reign of the digital imposes itself with the digitocracy over the continuum. The mathematical continuum, irreducible to the countable, is negated as interdict, as dangerous illegality.

Of mathematics, it is demanded a logocentered logicity, a reifying and imprisoning reduction that strives to reduce the semantic to the syntactic and, thus, extends the formal incompleteness to a semantics that does not possess it.

The mathematical intuition is substituted by the cold deduction that, incapable of scaling new horizons because it lacks imaginative capability, does not explore the mathematical idea and its apprehension by the mathematician that intuits it in a sensual immediateness produced by an imaginative synthesis, idea, itself, by nature, irreducible to a logical logocentrism, as Gödel proved it.

To scale new horizons… to think beyond the barriers of the code… dangerous activities… incompatible with a digitocracy extended to the mathematical activity itself. The formal language ceases being just an instrument of discursive organization and of formalization auxiliary to the proof, to become an instrument of thought control.

From abstractive auxiliars, the language and the formal system become instruments of alienation of the mathematical thinking itself, that, to think the formal, empty of semantics, loses its object of intentionality – the mathematical object, in itself, as abstract object of thought, which, as Gödel proved it, is irreducible to the purely syntactic, to the purely logical.

To digitize the mathematical continuum in the mathematical discrete means to abolish, from the thought, a universe of thinkable forms, to impose the limit of the digital, useful to an effort of computative mechanocracy in which the instrument of the number abolishes the analogical and, thus, the interval itself and the continuum. Without interval, without continuum, without shades, without infinitesimal differences, without empty spaces, thought as empty spaces because continua of nothing. End of the différance towards the end of the différence.

Even if different, digitized, we come to occupy the same houses in the bar codes in which we become, clones in our condition of slaves to the digit.

Badly interpreted Gödel’s theorem, to justify that the notion itself of mathematical truth is reducible to a logical validity, in a first step towards the algorithmization of truth, of geometry, of the continuum, of the interval, of the grey, of the individual as individual, separated from the rest, and non-slaved to the number… and non-slaved to a machine incapable of imagining, incapable of innovating, incapable of jumping outside the tyranny of the formal system, itself limited in itself and right from the point in which it deals with the numbers themselves and with simple arithmetic.

The end of the mathematician (second target), as well as the end of the philosopher (first target) are the two first steps to abdicate from our thought and from those natural systems of systemic homeostasis, thinkable as antibodies that protect us from the dictatorships of the formal and of the machines as ends in themselves.

Saturday, March 7, 2009

Digitalização do Contínuo

Carlos Pedro Gonçalves

O reino do digital impõe-se com a digitocracia sobre o contínuo. O contínuo matemático, irredutível ao contável, é negado como interdito, como ilegalidade perigosa.

Da matemática, é exigida uma logicidade logocentrada, uma redução reificante e aprisionadora que tenta reduzir o semântico ao sintáctico e, assim, estende a incompletude formal a uma semântica que não a possui.

A intuição matemática é substituída pela dedução fria, incapaz de escalar novos horizontes, porque não possui capacidade imaginativa, não explora a ideia matemática e a sua apreensão pelo matemático que a intui numa imediatez sensual produzida por uma síntese imaginativa, ideia, esta, por natureza, irredutível a um logocentrismo lógico, como o demonstrou Gödel.

Escalar novos horizontes… pensar para além das barreiras do código… actividades perigosas… incompatíveis com uma digitocracia alargada à própria actividade matemática. A linguagem formal deixa de ser somente um instrumento de organização discursiva e de formalização auxiliar à demonstração, para passar a ser um instrumento de controlo de pensamento.

De auxiliares abstractivos, a linguagem e o sistema formal passam a ser instrumentos de alienação do próprio pensamento matemático, que, para pensar o formal, vazio de semântica, perde o seu objecto de intencionalidade – o objecto matemático, em si mesmo, enquanto objecto abstracto de pensamento, o qual, como Gödel demonstrou, é irredutível ao puramente sintáctico, ao puramente lógico.

Digitalizar o contínuo matemático no discreto matemático significa abolir do pensamento um universo de formas pensáveis, para impor o limite do digital, útil a um esforço de mecanocracia computativa em que o instrumento do número abole o analógico e, assim, o próprio intervalo e o contínuo. Sem intervalo, sem contínuo, sem matizes, sem diferenças infinitesimais, sem espaços vazios pensados como espaços vazios porque contínuos de nada. Fim da différance para o fim da différence.

Ainda que diferentes, digitalizados, passamos a ocupar as mesmas casas nos códigos de barra em que nos tornamos, clones na nossa condição de escravos do dígito.

Teorema de Gödel mal interpretado para justificar que a própria noção de verdade matemática seja redutível a uma validade lógica, num primeiro passo para algoritmização da verdade, da geometria, do contínuo, do intervalo, do cinzento, do indivíduo enquanto indivíduo separado dos restantes, e não escravizado ao número… e não escravizado a uma máquina incapaz de imaginar, incapaz de inovar, incapaz de saltar para fora da tirania do sistema formal, ele próprio limitado em si mesmo, e desde logo, quando lidando com os próprios números e aritmética simples.

O fim do matemático (segundo alvo), assim como o fim do filósofo (primeiro alvo) são os dois primeiros passos para abdicarmos do nosso pensamento e daqueles sistemas naturais de homeostasia sistémica, pensáveis como anticorpos que nos protegem das ditaduras do formal e das máquinas enquanto fins em si mesmos.

Thursday, March 5, 2009

humanidade

Por: Maria Odete Madeira

O reconhecimento intersubjectivo da humanidade, em nós, como um telos constitutivo supremo que a vida nos doou, compromete-nos responsavelmente com o direito e o dever de defender a nossa humanidade como um bem que é nosso, que é incondicional e que é inalienável.