Tuesday, July 14, 2009

Carlota Pérez - Solução para a crise?

Acerca das afirmações de Carlota Pérez em http://www.ionline.pt/conteudo/13109-carlota-perez-economista-que-tem-solucao-crise

por Carlos Pedro Gonçalves

Creio que estamos a viver um pleno de economia interconectada globalizada. Esta crise evidencia uma falha perspectívica da análise de risco, que assume a diversificação financeira e uma base correlacional como elementos decisionais, ignorando a possibilidade de criação de interconectividades por via da gestão de carteiras e, em particular, dos fundos de investimento.

Aquilo que esta crise evidencia, em primeiro lugar, é a falência de uma razão local de nó que esquece a rede. O que Pérez propõe é um retrocesso a uma razão local centralizadora. Os anos de 1970 e 1980 padeceram de problemas (aftereffect) devido a um Bretton Woods incompatível com um sistema complexo adaptativo em processo de internacionalização, o regresso a um Bretton Woods e a um Keynesianismo de Estado continua a ser uma aposta numa razão de nó centralizador que esquece a rede.

O neoliberalismo falha pela incapacidade de perceber os mercados enquanto sistemas adaptativos complexos interconectados com redes sistémicas e ecossistémicas complexas não-lineares. Um neokeynesianismo falharia também porque procuraria impor uma lógica de controlo centralizador sobre um sistema complexo acentrado. Após a falência de um tal neokeynesianismo teríamos de lidar com uma sobreposição de crises, resultantes: das instabilidades emergentes de um sistema económico que está a evoluir de uma economia planetária para uma economia transplanetária (veja-se o rápido desenvolvimento das tecnologias espaciais); das crises ambientais vindas do aquecimento global; das crises e instabilidades resultantes de uma falência dos mecanismos de controlo centralizados impostos sobre um sistema acentrado.

A solução fiscal que tenta travar o comportamento de curto prazo dos mercados financeiros baseia-se numa lógica errada acerca do comportamento de mercado, travar o comportamento de curto prazo dos mercados financeiros é impedir a adaptabilidade dos mesmos, o que teria consequências de longo prazo quando uma crise se sobrepusesse a uma inércia de mercado. Poderia conduzir a crashes ainda maiores.

As soluções do século XX, do Keynesianismo e do neoliberalismo funcionam segundo lógicas de economias de Estado ainda em processo de internacionalização, necessitamos de um pensamento económico alternativo baseado na hipótese da eficiência adaptativa, nas ciências da complexidade e na ciência risco, para lidar com a natureza do sistema que temos. Não está na altura de ilusões locais mecanicistas, estamos perante crises de mercados vivos não capturáveis nos modelos Keynesianos e neoclássicos.

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